O humilde cartão de visita, produto da inventividade francesa durante o reinado de Luis XIV, deveria estar morto e enterrado na atual era de mídias de relacionamento social e computação em nuvem. Mo Koyfman, diretor do fundo de investimentos de risco Spark Capital, captou a mentalidade predominante entre os que gostam de pensar à frente ao declarar recentemente: “Abomino os cartões de visita. Usá-los dá uma sensação tão arcaica.”
Koyfman não é o único a pensar assim. Faça uma busca por “business card is dead” (“o cartão de visita está morto”, em inglês) e verá uma avalanche de obituários. Os relatos sobre a morte do cartão de 9 por 5 centímetros, no entanto, foram muito exagerados. Despreze e ridicularize o quanto quiser, mas o cartão de negócios continua um mercado em crescimento. Como essa tecnologia do século XVII não apenas sobrevive, mas continua a crescer?
Se os cartões de visita estivessem para morrer, o principal suspeito seria o LinkedIn, plataforma de rede de relacionamento social para profissionais, que informa ter 135 milhões de usuários em mais de 200 países. “Os cartões de visita foram inventados originalmente por motivos de legitimidade”, diz Nathan Shedroff, estrategista de design no California College of Arts. “Mas, desde os anos 80, quando você podia imprimir de forma personalizada 50 cartões falsos e se fazer passar por qualquer pessoa, o currículo passou a ser [uma opção] mais confiável. [Essa é] a área em que o LinkedIn é rei.”
O LinekedIn comprou em janeiro de 2011 o CardMunch, aplicativo que escaneia e armazena instantaneamente as informações de cartões de visita, digitalizando os contatos. O cofundador Sid Viswanathan teve a inspiração ao deparar-se com o penoso trabalho de transcrever uma montanha de cartões recolhidos durante uma conferência do setor de tecnologia. A tarefa levou quatro horas à mão, o que lhe deu tempo de sobra para sonhar em um método mais eficiente. “O ponto fraco do cartão de visita é que se trata de uma peça plana e unidimensional de papel que fica desatualizada de imediato”, explica Viswanathan.
“O CardMunch liga-o [o cartão] ao currículo no mundo digital, então é possível conhecer a pessoa por trás do cartão – [conhecer] o ‘quê’ e o ‘onde’, não apenas o ‘quem’.”
O CardMunch foi relançado em novembro, com sua capacidade de identificação integrada à vasta rede de currículos da LinkedIn, relegando o cartão de visita ao papel de mero portão de entrada à rede social. Até Viswanathan, no entanto, admite que há um longo caminho pela frente. “O cartão de visita continua difundido. Nosso objetivo não é matá-lo, mas substituí-lo cuidadosamente.”
Trata-se de uma ambição ousada, e o LinkedIn não é o único produto que coloca os cartões de visita sob ataque. Um autêntico batalhão de aplicativos com nomes estranhos, como Cardcloud, CardFlick, DooID, uME, e TwtBizCard, está empenhado em oferecer o produto que será o “Cartão de Visita 2.0”.
Uma avaliação mais atente da curva de aprendizado de um dos concorrentes mais comentados, a Bump Technologies, ilustra os desafios escondidos que a categoria enfrenta. A empresa acabou com a estética do cartão de visita e o tornou as informações transferíveis pelas plataformas do Android ou iPhone, por meio do simples toque de um aparelho no outro. “Não há nada mais satisfatório do que saber que suas informações de contato vão diretamente para o telefone de alguém, em vez de serem deixadas esquecidas em uma gaveta”, diz Sadie Bascom, que trabalha na empresa e cujo cargo é descrito como “pregadora do Bump”.
O produto começou com força total desde o lançamento em março de 2009 já contabiliza 53 milhões de usuários. Uma recente avaliação interna, no entanto, surpreendeu os fundadores. Apesar de ter sido pensado como um produto de negócios, estava sendo usado principalmente como ferramenta de relacionamento social, depois do horário de trabalho. “Há tantas barreiras que estamos encontrando no mundo dos negócios”, diz Bascom. “Nem todos têm Android ou iPhones; os usuários do BlackBerry não podem transferir; e centros de conferência muito grandes frequentemente têm recepção sem fio ruim, o que leva à perda de sinais”.
A CardMunch e Bump Technologies são bons exemplos de ideias que soam melhor na teoria do que na prática, diz Koyfman. “O CardMunch é uma mera tecnologia-ponte e há muitos empecilhos para o ‘bumping’ [transferência com o toque] dar certo para que [a técnica] tenha sucesso”.
Outros analistas acreditam que o cartão de visita tem uma força secreta de “baixa tecnologia” que nem mesmo o voo de fantasia mais asimoviano poderia substituir. “O ato teatral em torno à troca de cartões de visita permite o flerte, a autoexpressão e a identificação”, diz Shedroff. “Transferir digitalmente pode ser divertido, mas a diferença em comparação à troca análoga de cartões de visita é a mesma que entre ter sexo e meramente trocar fluidos corporais.”
Há boas razões para os cartões de negócios continuarem sendo uma ferramenta bem-sucedida, diz Richard Moross, executivo-chefe e fundador da Moo.com, uma empresa on-line de impressão de cartões. “Não precisam de bateria, não tem problemas de compatibilidade, não precisam de mensalidade e todo mundo os entende.”
A Moo.com permite criar rapidamente cartões personalizados em lotes pequenos, combinando os rápidos avanços da impressão moderna com o crescimento explosivo das pequenas empresas. A Moo.com, com sedes em Londres e Rhode Island, imprimiu 50 milhões de cartões em 2011 e prevê dobrar o número em 2012. “Esse é um setor grande e lucrativo”, diz Moross. “Quarenta e cinco por cento de nossos negócios são nos EUA e estimamos nosso setor como um mercado de US$ 3 bilhões, que apesar de seu tamanho é extremamente fragmentado e carece de participantes dominantes.”
Evan Shapiro, presidente da IFC e Sundance Channel, pretende conquistar uma parte do mercado com uma nova empresa, a UR IDeal. O produtor executivo do cultuado programa de TV “Portlandia” também é ardente defensor dos cartões de visita. “Os que preveem a morte dos cartões de visita perderam a noção de sua função principal. Não é uma simples troca de informação, é uma profunda expressão de identidade.”
“O LinkedIn não é sua marca pessoal assim como o Farmville não é seu negócio pessoal”, explica Shapiro. “Não se poder ser único e permitir que sua marca seja um modelo desenhado no Vale do Silício com os mesmo termos pesados: ‘administrado’, ‘coordenado’, ‘fiscalizado’.”
A nova empresa de Shapiro permite que os clientes façam um “identificador” personalizado que parece um maço de cartas. A ideia surgiu durante uma excursão de marketing por todo o país, quando o executivo de TV usou uma caixa de cartas de jogo para levar seus próprios cartões de visita. “Sempre que a tirava, era um motivo de conversa e um arremate perfeito.” Incentivado pela reação das pessoas, Shapiro rapidamente pensou em criar a empresa. “Nós nos vemos como a microcervejaria dos produtos de papel.”
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Sergio Ricardo Rocha – Dr Vendas
Palestrante, Consultor e Coach
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